Estudo alerta: passar uma única noite em claro muda a atividade de genes associados à obesidade e o diabetes. Para pior.
Atire o primeiro travesseiro quem não perde pelo menos uma noite de sono na semana porque ficou até tarde… [insira aqui o motivo que faz você ir para a cama de madrugada]. Que erro! Dormir poucas horas (ou nenhuma) em um único dia já é suficiente para provocar alterações no funcionamento do DNA que podem causar problemas de saúde a curto e a longo prazo.
O alerta vem de um estudo da Universidade Uppsala, na Suécia, publicado em agosto na revista Science Advances. A pesquisa recrutou 15 pessoas jovens e com peso considerado saudável, que dormiram duas noites sob o olhar dos estudiosos. Na primeira noite, descansaram por oito horas, como mandam os médicos. Na segunda, não puderam pregar os olhos. Tanto no dia anterior quanto no seguinte aos experimentos, os voluntários passaram por exames de sangue e também por biópsias, em que foram retiradas pequenas amostras de tecido adiposo e muscular.
Os resultados mostram que, após a noite em claro, o DNA dos participantes passou por um processo chamado “metilação”. Ele ocorre quando pequenos compostos orgânicos (radicais chamados “metil”) são colados como etiquetas no código genético. Genes com uma alta concentração de metil são desativados. Esse mecanismo é considerado epigenético (“além da genética”), pois influencia a atuação dos genes sem alterá-los.
No caso dos voluntários do estudo sueco, a metilação ocorreu em áreas do DNA não apenas ligadas ao relógio biológico do organismo, mas também ao desenvolvimento de distúrbios metabólicos, como obesidade e diabetes tipo 2. Para os autores, isso explica os achados de outros trabalhos científicos já feitos sobre o tema. “Acreditamos que essa é uma nova peça do quebra-cabeça sobre como problemas crônicos de sono aumentam o risco de uma pessoa se tornar obesa, por exemplo”, comenta Jonathan Cedernaes, líder da investigação.
Um olhar mais detalhado sobre os achados revelou, ainda, que o impacto de uma noite maldormida se dá tanto no tecido adiposo quanto no muscular. “Encontramos indícios de que, no dia seguinte a uma noite sem sono, o tecido adiposo tenta aumentar sua capacidade de estocar gordura”, relata Cedernaes. Já os músculos perdem proteína quando você dorme pouco ou nada – o que impacta não só no volume de massa magra, mas também na capacidade do organismo de consumir o açúcar excedente no sangue, processo que se dá, normalmente, nas células musculares. Isso explicaria também o elo entre a insônia e o diabetes.
Segundo Jonathan Cedernaes, o próximo passo é entender se dormir bem depois de não ter pregado os olhos na noite anterior neutralizaria essas alterações. Outros possíveis aliados de quem teve uma noite regada a insônia são alimentação saudável e atividade física – algo que os cientistas suecos também pretendem investigar. Mas, vamos combinar, você não precisa do aval da ciência para incluí-los na sua vida, né?
Fonte: Luiza Monteiro para Superinteressante - Foto: Rain Carnation para Pixabay