Empresas não ligam para o bem-estar do funcionário, diz professor de Stanford

Segundo Jeffrey Pfeffer, o ambiente de trabalho é a fonte de estresse e toda companhia precisa agir como se estivesse no ramo da saúde

“O trabalho está matando as pessoas e ninguém se importa”. Assim Jeffrey Pfeffer, professor da Escola de Negócios da Universidade Stanford começou sua palestra hoje (13/09), durante o Simpósio Work Place Wellness, no Insper, em São Paulo (SP). Segundo o professor, a principal fonte de estresse no mundo é o ambiente de trabalho. “Toda empresa tem que entender que está no ramo da saúde”, diz.

CONTINUE LENDO A MATÉRIA

Números corroboram esse cenário: em 2017, 70% da população brasileira já apresentou ou possui sintomas de estresse, dos quais 69% apontaram o trabalho como sua principal causa, segundo Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse (Isma Brasil).

No entanto, empresas não aplicam medidas de prevenção. Segundo Pfeffer, nos últimos anos, as companhias se tornaram menos preocupadas com a saúde no ambiente de trabalho. As demissões aumentaram, a instabilidade cresceu e os contratos se tornaram mais flexíveis. “Não são apenas as pessoas demitidas que são afetadas com relações mais instáveis. A produtividade cai para quem fica na empresa. Fica difícil a empresa inovar”, afirma.

JEFFREY PFEFFER, PROFESSOR DA ESCOLA DE NEGÓCIOS DA UNIVERSIDADE STANFORD (FOTO: ÉPOCA NEGÓCIOS)

JEFFREY PFEFFER, PROFESSOR DA ESCOLA DE NEGÓCIOS DA UNIVERSIDADE STANFORD (FOTO: ÉPOCA NEGÓCIOS)

Para o professor, a tecnologia desvalorizou o funcionário. Aplicativos de entrega e de mobilidade tornaram as relações de trabalho mais precárias. “As pessoas precisam trabalhar muitas horas para ganhar algo que minimamente as sustente”, diz à Época NEGÓCIOS.

Pfeffer não concorda que as pessoas tenham uma corresponsabilidade. Para ele, a função de criar um ambiente mais estável e menos estressante é totalmente dos empregadores. “Hoje nós dizemos que os colaboradores precisam ter resiliência”, afirma. “Mas as empresas têm os recursos e mais meios para desenvolver isso”. Ele cita como exemplo, oferecer cursos de habilidades pessoais, aulas de relaxamento, etc.

Mas, ele ressalta, que práticas desse tipo só são efetivas se vierem com a intenção de efetivamente criar uma cultura de bem-estar. Ou seja, dar mais independência para os colaboradores, segurança e criar processos que condizem com esses valores, como menos horas de trabalho. “As pessoas não se importam com comida de graça no trabalho ou espaços de descanso no escritório por si só”, diz. “Elas querem ter autonomia, bom relacionamento com seus superiores e vida fora do trabalho.”

Segundo o professor, as empresas primeiro devem realizar pesquisas internas dos níveis de saúde e bem estar, para saber o que priorizar para melhorar os dados coletados. “As empresas já aplicam estratégias desse tipo com seus consumidores ou clientes”, diz. “Precisa ter a mesma abordagem com seus funcionários.”

A preocupação com a saúde dos funcionários é fundamental para o futuro de qualquer empresa, aponta o professor. Medidas voltadas ao bem-estar aumentam taxas de retenção e atração de talentos. “Os jovens se preocupam mais com o bem-estar no local de trabalho, porque veem as consequências da falta disso nos seus pais”, afirma.

O custo financeiro também pode ser evitado. De 2010 a 2030, o gasto com doenças crônicas será de US$ 16 trilhões para China e US$ 2,5 trilhões para a Coreia do Sul, aponta estudo da Harvard. Já no Brasil, em quatro anos, os gastos públicos ligados a transtornos mentais como ansiedade e depressão corresponderam a 7% das despesas médicas. “Nós estamos percorrendo um caminho insustentável”, diz Pfeffer. “O custo é enorme para algo que pode ser completamente evitado.”

Fonte: Érica Carnevalli para Época Negócios - Fotografia: Limassol/Cyprus para Pixabay

Comments are closed.