Profissão ameaçada: evasão da medicina

“E ai cara, só queria que você fosse um dos primeiros a saber que eu pedi demissão do hospital e estou cumprindo aviso prévio. Estou pensando em fazer um MBA executivo…”

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Eu li duas vezes esse texto chocante de um colega cirurgião ortopédico que também é um amigo próximo. O que? Ele vai sair?

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Tínhamos acabado de cumprir cinco anos “nas galés” da residência de cirurgia ortopédica, um ano de especialização e acabávamos de fazer a prova para obter o título de especialista. Agora deveríamos estar nas nuvens. Tudo do que precisamos abdicar: gastamos nossos 20 anos trancados na biblioteca, fazendo plantão sem parar nos fins de semana e feriados. Fizemos isso para ter o privilégio de algum dia ser cirurgiões dos nossos próprios pacientes.

Liguei pra ele na hora e ele confirmou minhas suspeitas sobre por que estava indo embora. Como médico contratado por um hospital, ele sentiu que infelizmente estava virando uma peça na engrenagem, um “provedor” gerando unidades de valor relativo. Gestores que nunca tinham feito um dia sequer de residência ou mesmo colocado os pés no seu consultório queriam dar “orientações” sobre como ele deveria exercer a medicina. No fim das contas, ele achou que a medicina era um barco furado, no qual os médicos estavam perdendo autonomia rapidamente, e que este é um caminho que leva direto para o burnout.

Eu achei que deveria compartilhar isso com todo o “Twitterverso“.

O tuíte viralizou e ficou claro que eu atingi alguma coisa. Eu toquei em um ponto nevrálgico para muitos dos meus colegas médicos. Surpreendentemente, muitos médicos foram empáticos com o meu amigo, e não o culparam por procurar uma carreira gratificante em outra área. Alguns médicos até acharam que ele estava fazendo a coisa certa.

Eu estava ficando realmente curioso. Em seguida eu fiz uma enquete no Twitter: “Médicos, vocês estão arquitetando como se aposentar mais cedo ou considerando formas de largar a medicina em um futuro próximo?” Sessenta e cinco por cento dos médicos que responderam estavam considerando uma saída precoce da medicina.

O resultado desta enquete foi coerente com a minha observação de que os grupos on-line sobre a aposentadoria precoce dos médicos só fazem aumentar. O Physician Side Gigs no Facebook, que tem por finalidade ajudar “os médicos interessados em oportunidades fora do atendimento clínico tradicional (…) como uma forma de complementar ou até mesmo substituir sua renda”, tem mais de 50.000 membros. Outro grupo no Facebook, os Physicians on FIRE, destina-se a ajudar os médicos a “alcançar independência financeira e se aposentar mais cedo”, e tem mais de 4.000 membros.

É difícil determinar se esses médicos em busca da antecipação da aposentadoria estão apenas fazendo reclamações vazias ou se estão realmente planejando uma estratégia de saída. Muitos médicos que responderam à enquete do Twitter esclareceram que adoravam tratar e ajudar os seus pacientes, mas que estava muito difícil lidar com o sistema. Será que todos esses médicos realmente querem abandonar a medicina? O que isso significa para a nossa iminente falta de médicos? Por que tantos de nós têm o desejo de sair?

Fonte: Dr. Daniel E. Choi para MedScape - Fotografia: Bru-nO para Pixabay

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