Trabalhar dá trabalho?

É possível encarar a jornada diária de uma forma mais prazerosa e satisfatória. Veja como:

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Muita gente gosta do trabalho que exerce. O que não significa que prefere trabalhar a ter folga. E não há nada de errado nisso: a relação humana com o trabalho é, por natureza, feita de atração e repulsa. “Não existiríamos sem o trabalho. Somos muito frágeis e vulneráveis para sobreviver sem ele”, diz o filósofo Mario Sergio Cortella.

E não é só a necessidade que nos leva à labuta. Cortella vê um apelo existencial no serviço. Ele diz que trabalho nos faz humanos, é o que nos distingue dos outros animais. Pois algumas pesquisas de opinião vão além e sugerem que trabalhar é um dos requisitos da felicidade. Segundo um estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, o desemprego parece diminuir realmente o nível de felicidade das pessoas. Traduzindo: seria impossível ser feliz sem pegar no pesado.

Mas todos que trabalham reclamam uma vez ou outra. De novo, não há nada de estranho nisso. Trabalho é uma espécie de punição. O filósofo Cortella concorda com o teor da frase. “O trabalho é uma obrigação. Não é possível gostar sempre de algo que se é obrigado a fazer.” Mesmo quem tem empregos invejáveis deve experimentar dias em que adoraria faltar ao trabalho.

O sentido do trabalho

Em sua essência, o trabalho é uma ferramenta com que transformamos o mundo para viver melhor. Mas vai além do salário. É preciso que o trabalho tenha sentido. E todo trabalho tem um, ou vários. Algumas pessoas o encontram na própria atividade que desempenham, como o balconista que adora lidar com o público, sente satisfação em ser gentil. Há muitos estudos científicos que relacionam o trabalho significativo com satisfação no trabalho, felicidade e até melhora na saúde.

Mas trabalhar de olho apenas no resultado final, por mais satisfatório e altruísta que ele seja, não garante a satisfação. O trabalho também tem que ser agradável agora. Sabe o sujeito que parece trabalhar brincando? É isso.

Uma característica fundamental da brincadeira é que ela é focada no processo, não no resultado. Tanto que, quando alguém quer ganhar de verdade um jogo que é de brincadeira, dizemos que ele “não soube brincar”. A criança se deixa envolver pela brincadeira. Faz pela simples satisfação de fazer. Não brinca pensando em recompensas, bônus, promoções. Essa é uma dica preciosa.

Outra maneira de tornar agradável a lida diária é ter gente querida por perto. O Instituto Gallup dos Estados Unidos descobriu que ter um melhor amigo no trabalho é um dos mais eficientes indicadores de engajamento, que se traduz em produtividade. E se mesmo assim você ainda se sente mal quando pensa em trabalhar, talvez seja hora de buscar uma nova oportunidade. Muita gente decola na carreira depois de mudar de função dentro da empresa, de emprego ou até mesmo de profissão.

O empregador também pode fazer muito pela satisfação dos funcionários. Não estamos falando aqui de um bom plano de saúde, de bônus ou participação nos lucros, e sim das condições para que cada um possa exercer sua função de maneira ideal.

Quando o trabalho envolve várias pessoas, o espírito desejável é o da cooperação. “As empresas que estimulam o trabalho em equipe, a informalidade e a amizade, no lugar de aspirações como status e competividade destrutiva, conseguem prosperar. Quando se sentem confiantes e seguras, as pessoas podem colaborar muito mais com sua inventividade”, diz a consultora Renata di Nizo. E é essa a chama da criatividade, característica tão desejada nas empresas.

Contra a corrente

Pode acontecer também que talvez você simplesmente queira trabalhar menos, preocupar-se menos, diminuir o espaço que o trabalho tem na sua vida. E tem muita gente pensando como você. Segundo Cortella, são pessoas que estão escolhendo a liberdade em vez da necessidade. Há dois caminhos. O primeiro é tentar satisfazer as necessidades. O “você precisa ter para ser feliz”.

O caminho contrário é aquele pregado pelos budistas: matar o desejo no ninho. Sem desejos, sem vontades, não temos necessidades. E, sem necessidades, somos felizes. São pessoas, minorias, que trabalham para ter o mínimo que comer, vestir e morar. No resto do tempo, dormem, brincam e interagem.  Dá para viver com menos sem virar monge ou aborígene. Mas é preciso abrir mão de alguns confortos e símbolos de status. Ganhar menos, ter menos coisas, viajar menos. E viver mais. Acredite: a escolha é de cada um.

fonte: Revista Vida Simples.

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