Sabe quando você está ansioso ou muito preocupado com alguma coisa e sente dor de barriga? Ou quando tem uma sensação de medo ou nervoso e percebe aquele friozinho no estômago? Às vezes, situações de estresse ou ansiedade podem gerar algum desconforto abdominal. Da mesma forma, sensações na barriga podem chegar até a cabeça. Quando estamos com fome, por exemplo, enviamos sinais ao cérebro de que precisamos comer e se não nos alimentarmos, podemos ter até dor de cabeça, não é mesmo?
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Em outras palavras, existe uma comunicação constante entre o cérebro e o intestino. Sinais do cérebro podem modificar a movimentação, as sensações e o bem-estar do sistema digestivo. Por sua vez, o intestino envia mensagens ao cérebro que podem afetar o comportamento, as emoções, o estresse e a dor. Não é à toa que o intestino está sendo chamado de ‘segundo cérebro’.
“Temos terminações nervosas, como se fossem pequenos raminhos de uma árvore, que estão lá no intestino e são sensíveis a variações que acontecem no local e mandam informações para a fonte, que está no cérebro”, afirma Bruno Paes Barreto, pediatra e professor de pediatria da Universidade do Estado do Pará (Uepa).
Ele explica que além da ligação por via neuronal, há outras formas de conexão entre o sistema nervoso central e o sistema gastrointestinal. “Há substâncias chamadas de mediadores hormonais, como serotonina e dopamina (responsáveis pela sensação de bem-estar), que são liberadas no intestino e caem na corrente sanguínea até chegar ao cérebro. Outra via é a imunológica, quando proteínas liberadas por células do sistema imune, como as citocinas, também caem no sangue e vão até o cérebro. São vários os mecanismos que fazem a ligação entre esses dois eixos”, acrescenta o professor.
Se antes procurava-se exclusivamente no cérebro a origem de transtornos psicológicos e psiquiátricos, hoje, evidências mostram que a microbiota, antes conhecida como flora intestinal, pode influenciar nesses problemas. Estudo de 2012 realizado por cientistas da University College Cork, na Irlanda, por exemplo, afirma que a microbiota intestinal tem papel importante na modulação do comportamento e do humor. Destaca, também, que uma ruptura em sua composição (da microbiota) contribui para vários estados de doença, incluindo distúrbios do sistema nervoso central. Por fim, ressalta que o estresse, inclusive, no início da vida, pode alterar a composição da microbiota e isso pode ter consequências marcantes na fisiologia na vida adulta.
Aqui no Brasil, a pesquisa Saúde Intestinal da Mulher, feita pela Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), comprovou como sintomas abdominais podem interferir em comportamentos. De um universo de 3040 entrevistadas, 67% das mulheres disseram sofrer de problemas como gases, inchaço e sensação de peso na barriga. Quando questionadas de que maneira os incômodos influenciavam na qualidade de vida, 89% disseram ter variações de humor e 88% reclamaram de menos concentração nas tarefas cotidianas.
Diversos estudos também comprovam a relação de uma microbiota intestinal equilibrada com o bem-estar do sistema digestivo, reduzindo condições de constipação e flatulência, entre outros aspectos. Esse ecossistema presente no intestino e habitado por trilhões de bactérias contribui, portanto, para a regulação de inúmeras funções fisiológicas, desde a produção de energia à imunidade contra agentes patogênicos, conforme apontado por outra pesquisa de 2012, realizada na Faculdade de Medicina do Imperial College London, na Inglaterra.
Probióticos e prebióticos são essenciais para o equilíbrio microbiota intestinal
Para conseguir tais benefícios à saúde é essencial manter o equilíbrio da microbiota intestinal, de modo a favorecer o aumento das bactérias ‘do bem’ e o combate daquelas ‘do mal’, patógenos que podem provocar doenças. Nesse sentido, uma rotina que inclua exercícios físicos regulares e uma dieta alimentar balanceada – o que todo mundo já sabe – são a chave do sucesso.
E no quesito alimentação, ingerir prebióticos e probióticos colaboram para a harmonia desse conjunto de bactérias. Prebióticos são alimentos tais como frutas, verduras, aveia e outros ricos em fibras não-digeríveis, que estimulam o crescimento de microorganismos benéficos. Já probióticos são alimentos que contêm os próprios microrganismos, do tipo bifidobacterium, por exemplo, presentes em iogurtes e bebidas lácteas fermentadas que, quando consumidos regularmente e em quantidades adequadas, ajudam a manter a microbiota intestinal em equilíbrio. E se ela vai bem, o intestino fica bem também. E o cérebro se beneficia desse bem-estar, assim como a saúde do corpo como um todo. Sempre, numa via de mão dupla. Mas seja qual for a direção, o caminho a seguir é claro: procure ter um estilo de vida saudável!
Referências
Mind-altering microorganisms: the impact of the gut microbiota on brain and
behaviour – University College Cork, Irlanda – 2012.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22968153
Host-gut microbiota metabolic interactions, da Faculdade de Medicina do
Imperial College London, na Inglaterra – 2012.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22674330
Fonte: Activia Danone – Foto: Ulrike Leone para Pixabay