À medida que as pessoas começam a retomar a rotina de escritório depois de trabalharem remotamente, um novo estudo sugere que a desorganização no serviço é mais do que apenas um aborrecimento para os mais certinhos; também pode ser um indicador de insatisfação com o emprego, especialmente no caso dos funcionários em cargos de chefia.
Os pesquisadores entrevistaram 202 pessoas que trabalham em escritórios e associaram uma percepção de aumento da desorganização a menos satisfação/prazer no trabalho e mais burnout/tensão relacionados ao trabalho. Embora os achados não confirmem o que veio primeiro, a bagunça ou a infelicidade no trabalho, eles sugerem que o ambiente de trabalho no escritório é mais do que uma questão de aparências. O líder do estudo, Dr. Joseph R. Ferrari, Ph.D., professor de psicologia na DePaul University, nos Estados Unidos, vai ainda mais longe e sugere que a bagunça pode prejudicar o bem-estar.
“Se alguém chega na terapia muito zoneado, isso provavelmente também ocorre na casa e no trabalho, e atrapalha a vida da pessoa”, disse o Dr. Joseph em uma entrevista. “Ter muitas pilhas de coisas não é algo bom – te torna menos eficaz.”
O Dr. Joseph realizou vários estudos sobre desorganização. Ele e seus colegas lançaram o novo estudo, publicado no periódico International Journal of Psychological Research and Reviews, para explorar o impacto da desorganização no escritório.
“O impacto da desorganização no bem-estar do funcionário pode afetar o lucro, a motivação da equipe, o acúmulo de recursos externos, conflitos interpessoais, atitudes sobre o trabalho e comportamentos do funcionário”, escreveram Dr. Joseph e colegas.
Os pesquisadores entrevistaram 290 trabalhadores em 2019 e se concentraram em 209 que trabalhavam em escritórios (60% eram homens, 87% tinham até 45 anos, 65% tinham diploma universitário ou avançado e 79% eram brancos). A maioria ocupava cargos mais baixos, em vez de mais altos, com atribuições de chefia.
Tantos os funcionários com cargos mais altos como aqueles com cargos mais baixos citaram os mesmos tipos de desorganização com mais frequência: papel, material de escritório e lixo (p. ex., copos de café usados). Os funcionários com cargo de chefia relataram mais questões com a bagunça, mas isso pode ser um reflexo da percepção mais aguçada em relação aos que ocupam cargos mais baixos, disse Dr. Joseph.
Os pesquisadores constataram que “a desorganização no escritório estava significativamente relacionada de forma negativa com satisfação/prazer no trabalho e significativamente relacionada de forma positiva a um risco de burnout/tensão no trabalho”. Eles também relataram que “pessoas com cargos mais altos foram significativamente mais propensas a referir desorganização e risco de burnout/tensão do aquelas que ocupam cargos mais baixos”.
Mais especificamente, uma técnica conhecida como análise fatorial exploratória determinou que “63% da desorganização no escritório pode ser explicada pela satisfação/prazer com o trabalho ou pelo risco de burnout“, explicou o Dr. Joseph. Os achados sugerem que a desorganização leva a sentimentos negativos sobre o trabalho, e não o contrário, disse ele.
O novo estudo não abordou se a desorganização tem aspectos positivos, conforme sugerido por um relatório de 2013 publicado no periódico Psychological Science.
A Dra. Darby Saxbe, Ph.D., professora associada de psicologia na University of Southern California, nos EUA, que estuda estresse no trabalho, disse em uma entrevista que pode ser difícil descobrir a direção da causalidade em um estudo como este. “Uma pessoa sobrecarregada pode fazer mais bagunça e não ter energia para arrumar as coisas. Se o ambiente estiver realmente bagunçado, você não conseguirá encontrar coisas com tanta eficiência ou controlar os projetos, e isso fomentará mais a sensação de estresse e burnout.”
O Dr. David Spiegel, médico e professor de psiquiatria e ciências comportamentais na Stanford University, nos EUA, está de acordo.
“A ideia de que a desorganização ao redor tem um efeito negativo sobre o humor é interessante, mas é igualmente provável que a desordem reflita o burnout, a incapacidade de completar tarefas e descartar seus resíduos”, disse ele. “Pode haver uma relação e eles podem interagir, mas a direção não é clara”, disse Dr. David, que também é diretor do Stanford’s Center on Stress and Health.
Ainda assim, disse ele, “em tempos de terapia via Zoom, observar a bagunça no cômodo ou no escritório do paciente pode dar uma pista sobre um possível quadro de burnout e depressão”.
Nenhum financiamento foi relatado. Os Drs. Joseph e David e a Dra, Darby informaram não ter relações financeiras relevantes.
Fonte: Randy Dotinga para MDedge – Tradução: Medscape – Foto: Karolina Grabowska para Pixabay