Novas diretrizes destacam o papel que as técnicas integrativas de controle da dor, como massagem, acupuntura e musicoterapia, podem desempenhar no alívio de certos tipos de dor oncológica em adultos.
As recomendações, publicadas no início de setembro no periódico Journal of Clinical Oncology, representam um esforço conjunto entre a American Society of Clinical Oncology (ASCO) e a Society of Integrative Oncology (SIO) para orientar os médicos sobre a melhor forma de elaborar diversas estratégias não farmacológicas para o controle da dor no tratamento oncológico.
“A dor é um desafio clínico para muitos pacientes com câncer e médicos oncologistas, e há um corpo de evidências cada vez maior mostrando que as terapias integrativas podem ser úteis no controle da dor”, explicou a Dra. Heather Greenlee, Ph.D., em um comunicado à imprensa.
No entanto, falta uma orientação clínica clara sobre quando usar e quando não usar essas estratégias, disse a Dra. Heather, que é presidente do Comitê de Diretrizes de Prática Clínica da SIO.
Diretrizes anteriores da ASCO sobre o tratamento da dor crônica relacionada ao câncer se concentraram majoritariamente no diagnóstico da dor e nas intervenções farmacológicas, e apenas abordaram evidências relacionadas a opções não farmacológicas.
As novas diretrizes “vão mais a fundo em relação ao uso das terapias integrativas, o que é importante, porque médicos e pacientes precisam ter acesso às mais recentes informações baseadas em evidências a fim de tomar suas decisões clínicas”, observou o médico Dr. Jun H. Mao, que foi um dos presidentes do painel da SIO-ASCO.
No documento, o painel de especialistas abordou duas questões principais: quais são as terapias mente-corpo recomendadas para controlar a dor de adultos e crianças diagnosticados com câncer e quais são os produtos naturais recomendados para controlar a dor desses pacientes.
O painel realizou uma pesquisa bibliográfica e identificou 277 estudos relevantes. Os autores incluíram revisões sistemáticas e ensaios clínicos randomizados publicados entre 1990 e 2021 que avaliaram desfechos como [redução da] intensidade da dor, alívio dos sintomas e [diminuição dos] eventos adversos. Após chegarem a um consenso, os especialistas elaboraram recomendações considerando a força das evidências disponíveis.
Em relação às modalidades com evidências mais fortes, o painel destacou várias recomendações sobre acupuntura, reflexologia, hipnose e massagem.
O painel determinou, por exemplo, que a acupuntura seja recomendada para pacientes com câncer de mama que apresentam dor articular relacionada à aromatase, e que essa estratégia terapêutica seja oferecida para dor em geral ou musculoesquelética decorrentes do câncer. A reflexologia e a acupressão são recomendadas para o controle da dor durante a terapia sistêmica para o câncer. A hipnose é uma opção para pacientes com dor processual no tratamento oncológico ou durante exames diagnósticos e a massagem é uma opção para o controle da dor durante os cuidados paliativos ou em internação prolongada, ou após o tratamento do câncer de mama.
Essas recomendações foram consideradas de força moderada e foram baseadas em níveis intermediários de evidência, que demonstram que os benefícios superam os riscos.
O painel incluiu várias recomendações destacadas como fracas e baseadas em evidências de baixa qualidade. Estes incluem hathaioga para pacientes com dor após o tratamento de câncer de mama ou de cabeça e pescoço, e musicoterapia para pacientes com dor após uma cirurgia oncológica.
Os especialistas também identificaram áreas “potencialmente relevantes para o tratamento do câncer, mas que precisam de mais pesquisas”, como a segurança e a eficácia de produtos naturais, como ácidos graxos ômega 3 e glutamina, e determinaram que há evidências insuficientes ou inconclusivas para fazer recomendações para pacientes pediátricos.
“Com tratamentos oncológicos aprimorados, como imunoterapia e terapia alvo, os pacientes diagnosticados com câncer estão vivendo mais; portanto, o controle da dor e dos sintomas é fundamental para melhorar a qualidade de vida [dessas pessoas]”, explicou ao Medscape o Dr. Jun, chefe de medicina integrativa do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, nos Estados Unidos. “As diretrizes clínicas da SIO-ASCO trazem recomendações muito oportunas para os médicos incorporarem tratamentos não farmacológicos, como acupuntura e massagem, para melhorar o controle da dor em pacientes acometidos pelo câncer.”
No entanto, a aceitação clínica desses tais tratamentos “é sempre uma preocupação”, disse um dos presidentes do painel, Dr. Eduardo Bruera, médico afiliado ao MD Anderson Cancer Center, nos EUA. “Esperamos que, ao mostrar as evidências crescentes, os sistemas de saúde comecem a contratar esses tipos de profissionais e os planos de saúde a cobrir esses tratamentos, porque estão se mostrando cada vez mais eficazes no controle da dor em populações oncológicas”, ele destacou.
O trabalho do painel da SIO-ASCO recebeu apoio de um fundo da Samueli Foundation para a Society for Integrative Oncology.
Sharon Worcester é uma premiada jornalista, especializada em medicina, que mora em Birmingham nos EUA. Ela escreve para o Medscape, MDedge e outros sites afiliados. Atualmente, Sharon escreve sobre oncologia, mas já cobriu várias outras especialidades médicas e assuntos de saúde. Seu endereço de e-mail é sworcester@mdedge.com e sua conta no Twitter, @SW_MedReporter .