A Síndrome de Hulk, também conhecida como Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), é famosa por deixar as pessoas mais agressivas e impulsivas.
Nos famosos quadrinhos da Marvel, Dr. Banner é um cientista brilhante. Porém, após um experimento malsucedido, ele precisa conviver com um grande impulso em se transformar numa enorme e descontrolada fera que quebra tudo ao redor – O Hulk.
No filme “Vingadores“, lançado em 2012, Banner precisa ajudar a sua equipe, quando Capitão América diz ao cientista que seria uma ótima hora para ele ficar com raiva. Banner, então, explica: “Esse é o meu segredo, Capitão, eu estou sempre com raiva.”
O que é o Transtorno explosivo intermitente (TEI)?
Hulk e seu temperamento agressivo inspiraram um transtorno descoberto pela psicologia. A Síndrome de Hulk, como é popularmente chamada, ou Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), é um comportamento agressivo, gerando acesso de fúria descontrolada, geralmente sem motivos aparentes, onde a pessoa perde o controle de seus impulsos violentos e pode agredir alguém através de palavras ou de forma física. Este descontrole também pode ser descarregado em animais ou objetos.
A síndrome é um tipo de Transtorno do Controle dos Impulsos (TCIs), cuja categoria ainda inclui piromania e cleptomania, por exemplo. Segundo a American Psychiatric Association (APA), um estudo realizado nos Estados Unidos dentro do período de um ano revelou que cerca de 2,7% da população geral possui o TEI. A pesquisa ainda apontou a predominância do transtorno na faixa etária entre 16 e 35 anos e com baixo nível de escolaridade.
No “Manual conciso de psiquiatria clínica” de 2004, B.J Sadock e Virginia A. comentam um estudo com pacientes internados em um hospital psiquiátrico universitário que mostrou que cerca de 2% deles foram diagnosticados com TEI e destes, 80% eram homens.
A prevalência da doença é nos homens. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), para cada três homens, uma mulher sofre de TEI. No Brasil, o TEI atinge 3,1% da população.
Além disso, o Transtorno explosivo intermitente (TEI) co-ocorre com uma variedade de outros distúrbios, como humor depressivo (unipolar), ansiedade e distúrbios de uso de substâncias.
Dessa forma,estudos de amostragem relataram que em pessoas com Síndrome de Hulk, os transtornos depressivos e de ansiedade são pelo menos quatro vezes mais prevalentes e que os transtornos por uso de substâncias são pelo menos três vezes mais prevalente.
O que causa a Síndrome de Hulk?
Não há uma exatidão para apontar o que desenvolve esta síndrome, isto porque diversos fatores podem desencadeá-la. Acredita-se que pessoas sofrem de problemas constantes em suas vidas, sejam eles oriundos do trabalho ou no meio pessoal, possam desenvolver este transtorno com maior facilidade.
Ao contrário do acesso de raiva, as pessoas diagnosticadas com TEI possuem um menor controle de sua fúria, pois elas perdem rapidamente as noções de limites e seu controle físico.
Então, é importante salientar que quem tem este transtorno não possui uma ação premeditada, tudo acontece de repente em sua mente e em seu corpo, é uma explosão de sentimentos agressivos que surgem sem dar sinal, sem avisar. Por este motivo, é muito importante descobrir deste cedo este mal para assim poder começar o tratamento indicado.
Fatores Biológicos
Há a hipótese de que pessoas contaminadas com toxoplasma no cérebro tem mais facilidade em desenvolver a síndrome de Hulk. Ou ainda, em um estudo recente desenvolvido por neurocientistas da Universidade de Chicago, notou-se que quem possui este transtorno está com o volume da massa cinzenta menor na região das emoções.
O mesmo estudo analisou 200 pacientes cujas concentrações de duas substâncias – a proteína c-reativa e a interleucina-6 – se mostraram elevadas. Ambas proteínas participam de processos inflamatórios gerados em resposta a agressões ao organismo. Os pesquisadores acreditam que tratando diretamente essa inflamação crônica, há mais chances de diminuir o aparecimento dos efeitos do transtorno.
Segundo o DSM-5, “Pesquisas dão suporte neurobiológico para a presença de anormalidades serotonérgicas, em termos globais e no cérebro, especificamente em áreas do sistema límbico (cingulado anterior) e do córtex orbitofrontal em indivíduos com transtorno explosivo intermitente. Em exames de ressonância magnética funcional, as respostas da amígdala a estímulos de raiva são mais intensas em indivíduos com transtorno explosivo intermitente em comparação com indivíduos saudáveis.”
A Síndrome de Hulk é genética? Segundo B.J Sadock e Virginia A., parentes em primeiro grau de pacientes diagnosticados com TEI possuem riscos mais altos de desenvolver transtorno do controle dos impulsos quando comparados ao restante da população.
Além disso, o TEI pode ser identificado desde a infância, por volta dos 6 anos de idade, que é a fase onde a criança já tem um controle sobre suas emoções.
Transtorno explosivo intermitente: sintomas
Uma pessoa que fica com raiva facilmente nem sempre é portadora da síndrome. Para diferenciar é importante notar além da frequência de fúria, os motivos pelos quais ela foi desencadeada.
Desse modo, é preciso verificar as reações da pessoa. Então, se crise de raiva acontecer por causas muito superficiais e aparentemente sem sentido, isso pode ser um indício. Quando o paciente realmente perde sua capacidade de controle e parece cego, a impulsividade e agressividade o domina completamente.
Confira abaixo alguns dos sintomas da Síndrome de Hulk:
- Agressões físicas e ameaças verbais sem justificativa ou razão;
- Surtos de raiva;
- A pressão e batimentos cardíacos descontrolados;
- Descontrole de atitudes onde objetos são quebrados e arremessados;
- Sudorese e tremores no corpo;
- Falta de paciência e irritabilidade;
- Falta de controle sobre as próprias ações;
- A pessoa se sente culpada após o ataque.
Quem possui este transtorno precisa urgentemente de tratamento. A tendência é que ela perca muitas oportunidades, além de viver em uma agonia intensa com ela mesma por não poder controlar seus próprios impulsos e sem planejar, poderá ferir alguém.
Quem possui TEI não tem prazer em realizar nenhuma de seus ataques de raiva, por isso, que foi popularmente batizado de Hulk, pois como o personagem, o paciente não vê glória em seu ataque de fúria e, assim, vivem deprimidos por tais atos.
Tipos de TEI (Transtorno explosivo intermitente)
Apesar de parecer algo único, o transtorno de raiva é passível de ser compreendido em duas esferas. Sendo assim, as pessoas agressivas com explosão de raiva podem ser classificadas em atitudes leves ou severas.
O ataque de raiva leve é aquele em que acontece com uma frequência média de duas vezes na semana durante um período mínimo de 3 meses. Nesse sentido, é possível perceber que o temperamento explosivo se reflete em ofensas, xingamentos, ameaças, gestos obscenos e agressões físicas sem lesão corporal.
Já em relação ao transtorno explosivo considerado grave, as pessoas com raiva realizam a destruição de patrimônios, além de manter agressões físicas com lesão corporal. Geralmente, esses incidentes ocorrem 3 vezes dentro do período de um ano.
O Diagnóstico da Síndrome de Hulk
O distúrbio explosivo intermitente nem sempre é compreendido. Aliás, ele é facilmente confundido por atitudes isoladas de pessoas explosiva. Por conta disso, a procura por um tratamento sempre é demorada.
Nesse sentido, a Revisão de literatura do Transtorno explosivo intermitente traz que “o TEI, apesar de existir na literatura há pouco mais de 30 anos, ainda é uma desordem
mental bastante desconhecida. Em relação à sociedade, esta condição é considerada por diversas vezes um ato temperamental de um indivíduo que reage grosseiramente aos fatos, sendo levada em conta apenas a partir do momento em que começa a prejudicar a rotina do mesmo ou de terceiros”.
Dessa forma, a sua percepção fica muito complicada. Inclusive, esse problema também assola os profissionais de saúde mental, que podem ter dificuldade para verificar o transtorno de imediato.
“Portanto, o que os leva a procurar ajuda são as sérias conseqüências do transtorno. Para psiquiatras e psicólogos, esta desordem pode passar despercebida, especialmente quando está correlacionada com outros transtornos ou mesmo quando os pacientes não consideram as explosões agressivas como doentias”, complementa o artigo.
Sendo assim, o diagnóstico do Transtorno Explosivo Intermitente (TEI) é realizado através da metodologia de exclusão de doenças, muito usada quando os sintomas de uma ou mais doenças têm semelhança. Ele é realizado exclusivamente por médicos, psiquiatras e psicólogos especializados.
Não há exames específicos para constatar o TEI, mas existem critérios rigorosos para identificar a existência do transtorno.
A agressividade infantil
Todo o cuidado é pouco na hora de diferenciar o que é comportamento agressivo considerado normal e alinhado com as circunstâncias em que são gerados do comportamento típico da Síndrome de Hulk, ainda mais ao lidar com crianças em pleno desenvolvimento de sua personalidade e aprendizados.
O DSM-5 explica:”Crianças com sintomas sugestivos de transtorno explosivo intermitente apresentam momentos de explosões de raiva graves. Para crianças com explosões e irritabilidade intercorrente e persistente, deve ser feito somente o diagnóstico de transtorno disruptivo da desregulação do humor”.
Entretanto, vale ressaltar que não é possível fazer um diagnóstico completo em indivíduos com menos de seis anos, por conta do desenvolvimento prematuro. Além disso, também não é fácil a assimilação do TEI em pessoas entre 6-18 anos, pois o comportamento agressivo pode se encaixar num transtorno de ajustamento.
Como lidar com a agressividade infantil? O acompanhamento psicológico é fundamental, para que nenhum trauma seja instigado nas crianças acerca de suas ações e personalidade. O controle da agressividade em crianças é feito através de uma análise psicológica de cada uma, pois não existe um jeito específico geral recomendado para todos.
Agressividade na Psicologia – O TEI
Desde o século XIX já se falava sobre a agressividade humana como transtorno. O psiquiatra francês Jean Etienne Esquirol propôs, em 1838, o termo “monomania” para impulsos instintivos até em casos de homicídios, indicando possíveis transtornos patológicos mentais que explicassem esse comportamento agressivo impulsivo.
Em 1915, Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, segmenta os impulsos em “impulsos primários”, que são são as exigências “primitivas, cegas, irracionais, brutais”, como fome, a sede, a respiração.” Os “impulsos secundários” são originados dos impulsos básicos e são reações à qualquer ameaça à eles. Segundo o psicanalista, o instinto existe sempre para se obter sua satisfação.
Transtorno explosivo intermitente: tratamento
Mas, afinal, como controlar a agressividade? A síndrome não possui cura. O portador deverá ser acompanhado por um psicoterapeuta para aprender a identificar em quais situações costumam desencadear os acessos de raiva e como evitá-los ou como controlar a intensidade da fúria.
E existe remédio para controlar a raiva? No tratamento para agressividade do TEI, em alguns casos o paciente pode ser orientado a fazer uso de medicações para auxiliar no controle das emoções, como os antiepilépticos, estabilizadores do humor, antipsicóticos e betabloqueadores.
A Síndrome de Hulk é um transtorno sério que necessita de atenção para o portador poder ter uma vida sem crises e problemas maiores ao seu dia a dia. Dessa forma, é fundamental a procura de profissionais especializados no assunto.
No tratamento de TEI, é recomendado fazer uma combinação de psicoterapia e medicamentos. Dessa forma, o psicólogo conseguirá cuidar da saúde mental do paciente, enquanto o psiquiatra será o responsável por indicar algum remédio para raiva.
Caso suspeite que você ou alguém próximo possa ter o transtorno, procure um psicólogo ou psiquiatra de sua preferência para realizar o diagnóstico. E, caso precise de tratamento, saiba que a terapia é uma das mais importantes formas de tratamento.
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Como lidar com pessoas com Transtorno explosivo intermitente
Sabemos que as pessoas com Síndrome de Hulk não conseguem controlar os seus impulsos agressivos. Porém, querendo ou não, existem diversos familiares e amigos próximos que precisam saber lidar com uma situação dessas. Então, o que fazer?
Bem, não há muito mistério nesse sentido. Ao perceber que o indivíduo está passando por uma crise de raiva, não adianta ficar mais estressado com a pessoa, pois ela não tem controle sobre o que está acontecendo. Sendo assim, é necessário manter a calma e entender que aquilo não é fruto da sua vontade, uma vez que o TEI acontece por impulsos sem motivo aparente.
Ainda, é importante tentar compreender como ela está se sentindo, até porque, em muitos casos, as pessoas são arremetidas com um sentimento de culpa logo após o acesso de raiva. Então, é fundamental estar próximo da pessoa para prestar toda a assistência que ela precisar.