Ao caminhar pela natureza, sua frequência cardíaca diminui, você se sente mais calmo e seu pensamento fica mais claro
Após mais de um ano de isolamento dentro de nossas casas, muitos de nós renovamos o apreço pela natureza.
E não é para menos. Mais e mais evidências sugerem que espaços verdes podem reduzir o estresse, revigorar o humor, melhorar a concentração e até têm o potencial de estimular nosso sistema imunológico.
Se você já é um ávido amante da natureza, deve ter notado como seu corpo se acalma com a visão dela. Quando você está em um espaço verde, você para, escuta, respira.
Sua frequência cardíaca diminui, você se sente mais calmo e seu pensamento fica mais claro. Passar mais tempo em áreas verdes pode ter um impacto duradouro em sua saúde e bem-estar – reduzindo o número de visitas ao médico e até melhorando seu humor a longo prazo.
Pesquisas têm consistentemente mostrado que mesmo períodos menos frequentes na natureza têm efeitos mensuráveis em seu corpo e cérebro. Elas sugerem que passar um total de 120 minutos por semana na natureza é a chave para maximizar seus benefícios a longo prazo.
Um estudo recente no Reino Unido envolvendo cerca de 20 mil pessoas descobriu que aqueles que passavam pelo menos duas horas por semana em uma área verde eram significativamente mais propensos a relatar boa saúde e maior bem-estar psicológico.
Pode ser um parque, bosque ou floresta – contanto que sejam duas horas por semana, você terá benefícios.
Algumas sugestões: você pode passar mais tempo em um parque local durante a hora do almoço, passear com o cachorro no parque, viajar no fim de semana para um lugar verde ou até fazer um desvio de cinco minutos por uma pracinha arborizada a caminho do supermercado. Isso pode realmente torná-lo mais saudável e feliz.
A evidência dos benefícios de passar tempo na natureza é agora tão convincente que médicos em algumas partes da Escócia prescrevem a atividade a seus pacientes com condições de doenças cardíacas e depressão.
‘Banho de floresta’
A prática também é indicada como terapia no Japão, onde ganhou até um termo próprio. Os “banhos de floresta”, ou shinrin-yoku, surgiram nos anos 1980 como uma forma de terapia psicológica e física. O “banho” significa passar tempo na floresta absorvendo sua atmosfera com o objetivo de atingir um certo estado de bem-estar e reconectar com as áreas verdes do país.
Vários estudos investigaram os benefícios da prática japonesa. Os cientistas descobriram que o “banho de floresta” tem um impacto significativo no seu sistema imunológico, aumentando em 50% as chamadas “células exterminadoras naturais”, um tipo de linfócito necessário para o funcionamento do sistema imunitário inato. O mecanismo exato que causa isto ainda está sob investigação.
Os estudos envolveram dois grupos. O primeiro fez uma viagem em um fim de semana prolongado para uma floresta próxima. Ali, os participantes fizeram uma bela caminhada de duas horas em uma floresta durante três dias consecutivos.
Os participantes do segundo grupo fizeram uma viagem igualmente atraente para a cidade mais próxima como turistas. Eles exploraram a cidade a pé pela mesma duração e nos mesmos horários do dia.
No final das viagens, uma série de exames de sangue revelou que a viagem à floresta aumentou a atividade das células assassinas protetoras naturais dos participantes em impressionantes 56% – e elas permaneceram 23% mais altas do que antes, mesmo um mês após o retorno do grupo. Já a viagem pela cidade não surtiu efeito.
A professora Ming Kuo, da Universidade de Illinois em Urbana e Champaign, nos Estados Unidos, vem explorando os benefícios da natureza para a saúde há mais de uma década, observando seus efeitos na suscetibilidade a infecções, bem como na saúde mental.
Segundo Kuo, respirar certos micróbios que têm o potencial de melhorar o seu humor e são encontrados no solo pode fazer a diferença.
Produtos químicos antimicrobianos liberados pelas plantas – chamados fitocidas – também podem contribuir positivamente para nossa saúde.
Sair para combater o estresse
A longo prazo, a natureza pode reduzir de forma perceptível os níveis de estresse dos seres humanos.
Estudos descobriram que a exposição a espaços verdes pode impactar significativamente os níveis de cortisol presente na saliva, que é um marcador de estresse.
Outros demonstraram que a exposição a espaços verdes está associada a reduções na pressão arterial e na frequência cardíaca, algo que tem um impacto significativo no risco de doenças cardíacas.
E não são apenas as paisagens verdes que têm um impacto profundo em nossos corpos e cérebros – parece que mesmo apenas os sons da natureza podem realmente mudar nossa atividade cerebral também.
Cada vez que você ouve os sons suaves do canto dos pássaros ou de um riacho, as ressonâncias cerebrais mostram que sua atenção se desvia naturalmente para fora, você fica menos envolvido com seus próprios pensamentos – e isso ajuda a reduzir os níveis de ansiedade.
Fonte: Michael Mosley para BBC News Brasil – Foto da capa: Freepik