Meditação tem resultado similar aos dos remédios para ansiedade e depressão

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“Geralmente, se você tem um falatório mental, chama isso de pensamentos. Mas se está profundamente envolvido em algo emocional, você dá prestígio especial a isso. Você pensa que esses pensamentos merecem o privilégio especial de serem chamados de “emoção”.

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De alguma maneira, nos domínios da mente de fato, as coisas não são assim. O que quer que surja são apenas pensamentos: pensar que estamos com tesão, pensar que estamos com raiva. No que concerne à prática da meditação, seus pensamentos não são mais tratados como VIPs, enquanto você medita.

Você pensa, você medita; você pensa, você medita; você pensa, você medita. Você tem pensamentos, você tem pensamentos sobre pensamentos. Deixe que seja assim. Chame-os de pensamentos.”

Chogyam Trungpa (Tibete, 1939 – Canadá, 1987)

Via O Globo

Trinta minutos diários de meditação podem atenuar sintomas de ansiedade e depressão, segundo uma nova pesquisa da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins.

“Várias pessoas fazem meditação, mas não é uma prática terapêutica tradicional”, diz o professor Madhav Goyal, que liderou o estudo publicado na revista “JAMA”. “Em nosso estudo a meditação parece aliviar sintomas de depressão e ansiedade com os mesmos resultados dos antidepressivos relatados em outros trabalhos.”

Os pesquisadores avaliaram o grau de mudança desses sintomas em pessoas que tinham uma variedade de condições médicas, tais como insônia ou fibromialgia, embora apenas uma minoria tivesse sido diagnosticada com doença mental.

Goyal e seus colegas descobriram que a chamada meditação mindfulness – uma técnica budista de atenção plena – também teve sucesso no alívio da dor e do estresse.

Para realizar a sua revisão, os pesquisadores analisaram 47 ensaios clínicos feitos até junho de 2013, com 3.515 participantes, envolvendo meditação e vários problemas de saúde física e mental, incluindo depressão, ansiedade, estresse, insônia, uso de drogas, diabetes, doenças cardíacas, câncer e crônica dor.

Eles encontraram evidências moderadas de melhora nos sintomas de ansiedade, depressão e dor depois que os participantes foram submetidos a um programa de treinamento de oito semanas em meditação mindfulness. Mas houve baixa evidência de melhora no estresse e na qualidade de vida. Não havia informações suficientes para determinar se outras áreas podem ser melhoradas por meio da meditação. Nos estudos que acompanharam os participantes por seis meses, as melhorias continuaram e não foi observado nenhum dano com a prática.

– Muita gente tem a ideia de que meditar significa sentar sem fazer nada, mas não é verdade. Meditação é um treinamento ativo da mente para melhorar atenção e há diferentes programas com approachs variados – diz o pesquisador.

 A meditação mindfulness, o tipo que se mostrou mais promissor, é normalmente praticada por 30 a 40 minutos por dia e enfatiza a aceitação dos sentimentos e pensamentos, do momento presente sem julgamento, além do relaxamento do corpo e da mente.

Mais estudos ainda são necessários para esclarecer que os resultados são os mais afetados por estes programas de meditação, bem como se outras práticas de meditação teriam efeitos melhores.

– Os programas de meditação parecem ter um efeito acima e além do placebo – diz Goyal.

”A meditação não é uma prática para tentar atingir o êxtase, bem-aventurança espiritual, ou tranquilidade, nem é a tentativa de se tornar uma pessoa melhor. É simplesmente a criação de um espaço em que somos capazes de expor e desfazer os nossos jogos neuróticos, dos nossos auto-enganos, nossos medos e esperanças escondidas”.Chogyam Trungpa

MEDITAÇÃO E CURA

(DO LIVRO “A ENERGIA DA ORAÇÃO” – THICH NHAT HANH)

A meditação (chamada dhyana em sânscrito e zen em japonês) é o cerne da prática budista. O objetivo da meditação é ajudar o praticante a chegar a uma compreensão profunda da realidade. Esta introspecção tem a capacidade de libertar-nos do medo, da ansiedade e da depressão. Pode produzir compreensão e compaixão, pode elevar a qualidade de vida e trazer liberdade, paz e alegria para nós mesmos e para as pessoas ao nosso redor.

Sobretudo na última parte do século XX, as pessoas do Ocidente começaram a voltar sua atenção para a meditação. O conforto material do Ocidente não é suficiente para trazer felicidade. Nossas mágoas, nossas preocupações e nossos problemas só podem ser resolvidos mediante uma vida espiritual. O budismo e a prática da meditação estão indicando atualmente a um maior número de pessoas um caminho para responder a estas dificuldades.

A meditação sentada é a forma mais comum de meditação, mas também podemos praticá-la em outras posições como caminhando, em pé ou deitados. Quando lavamos roupa, cortamos lenha, regamos as plantas ou dirigimos o carro – onde quer que estejamos, o que quer que façamos, seja qual for a posição de nosso corpo, se as energias da mente alerta, da concentração e da introspecção estiverem presentes em nossa mente, em nosso corpo, então estamos praticando a meditação. Viver em sociedade, ir ao trabalho todo dia, cuidar de nossa família também são oportunidades de praticarmos a meditação. A meditação tem o efeito de nutrir e curar o corpo e a mente. E devolve ao praticante e às pessoas que o cercam a alegria de viver. (…)

A meditação é especialmente indicada para nos ajudar naquilo que o budismo chama de nós interiores e de complexos de identidade. Esses grilhões nos impedem de estar conscientes no momento presente.

Os nós interiores são um conjunto de ilusões, repressões, medos e ansiedades que se fixaram nas profundezas de nossa consciência. Eles são capazes de nos constranger e nos levar a fazer, dizer e pensar coisas que na realidade não queremos fazer, dizer ou pensar. Os nós interiores são plantados e alimentados por nossa ausência da atenção plena durante a vida de todo dia. Os dez nós interiores principais são: ganância, ódio, ignorância, vaidade, desconfiança, fixação no corpo como se fosse o eu, pontos de vista extremados e preconceitos, apego a ritos e rituais, ânsia de imortalidade, desejo ardente de manter as coisas exatamente como são. Nossa saúde e nossa felicidade dependem em grande parte de nossa habilidade de transformar esses dez grilhões.

A atenção plena tem a capacidade de reconhecer os nós interiores quando eles aparecem em nossa consciência. Esses nós interiores se formaram no passado, às vezes foram energias habituais a nós transmitidas por nossos pais e avós. Não precisamos voltar ao passado e cavar nas lembranças, como se faz na psicologia, para descobrir as raízes dessas partes turvas e emaranhadas de nossa mente. A energia da atenção plena é capaz de reconhecer as formações interiores quando elas se manifestam e olhar profundamente para dentro delas, de modo que podemos ver as raízes desses nós emaranhados.

A prática da meditação nos ajuda a ver a interconexão e a interdependência de tudo o que existe. Não há fenômeno, seja ele humano ou material, que possa aparecer por si só e durar por si só. O fato é que uma coisa depende da outra para surgir e durar. Esta é a introspecção da interdependência, às vezes chamada também de inter-ser ou não-eu. Não-eu significa que não há uma entidade permanente separada. Todas as coisas estão em constante mutação. Pai e filho, por exemplo, não são duas realidades separadas. O pai existe no filho, e o filho existe no pai. O filho é a continuação do pai no futuro, e o pai é a continuação do filho no passado da fonte. A felicidade do filho está ligada à felicidade do pai. Se o pai não é feliz, a felicidade do filho não pode ser perfeita. A natureza de todas as coisas é não-eu. Não’ há um eu separado e independente.

No âmbito da psicoterapia, a baixa auto-estima é considerada doença. Na prática da atenção plena, tanto a baixa quanto a alta auto-estima e também a necessidade de julgar-se exatamente igual às outras pessoas também são consideradas doenças ou, como dizemos no budismo, complexos. Todos esses três complexos se baseiam na idéia de um eu separado. Baseiam-se todos no orgulho: orgulho de ser melhor, orgulho de ser pior e orgulho de ser igual. O sofrimento que nasce da raiva, da inveja, do ódio e da vergonha só pode ser completamente transformado quando chegamos à introspecção do não-eu. Este é o fundamento da prática da cura na meditação.

“As razões mais profundas para amar a si mesmo não tem nada a ver com nada fora de você – não com o seu corpo ou com as expectativas que os outros têm de você. Se você entrar em contato com sua própria bondade, nada será capaz de prejudicar a sua auto-estima.” Karmapa

O mestre zen Thuong Chieu, do Vietnã do século XI, disse que, se conhecêssemos o caminho das atividades da mente, a prática da meditação seria fácil. A escola de budismo da Consciência Somente (Consciousness Only) fala de oito espécies de consciência: as consciências dos cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato); consciência da mente; manas (consciência da identidade) e depósito de consciência.

Manas é a energia ligada à idéia de que existe um eu separado, independente e duradouro, oposto àquelas coisas que não são o eu. A consciência alaya, ou depósito de consciência, é semelhante a um jardim que contém todo tipo de sementes; e a consciência da mente é semelhante ao jardineiro. Quando praticamos a meditação, a consciência da mente está trabalhando, mas o depósito de consciência também está trabalhando secretamente dia e noite. A mente inconsciente da psicologia ocidental é apenas uma parte do depósito de consciência. Se conseguirmos reconhecer e transformar os nós interiores que estão no fundo de nossa consciência, isto levará à liberdade e à cura. Isto se chama transformação na base (asrayaparavritti). Significa a transformação que ocorre justamente na subestrutura da consciência.

Quando nossos desejos, medos e sentimentos de indignação são reprimidos, ficam quais sementes que não recebem o oxigênio nem a água de que precisam para crescer e se transformar em algo belo; e podemos experimentar, tanto no corpo como na mente, sintomas que se originam desse bloqueio. Apesar dessas formações mentais terem sido reprimidas, ainda têm a função de nos prender e dirigir, tornando-se assim nós interiores muito fortes. Temos o hábito de virar-lhes as costas, agindo como se elas não existissem, e é por isso que elas não têm oportunidade de emergir e aparecer em nossa consciência mental. Procuramos esquecer, consumindo mais coisas. Não queremos encarar esses sentimentos de dor e de abatimento. Queremos preencher a área da consciência mental de modo que o espaço todo seja ocupado e os sentimentos de pesar que estão no fundo não encontrem lugar para se manifestar. Assistimos aos programas de televisão, ouvimos rádio, folheamos livros, lemos jornais, conversamos, jogamos cartas e bebemos bebidas alcoólicas, tudo para esquecer.

Quando nosso sangue já não pode circular, aparecem sintomas de doenças em nosso corpo. Da mesma forma, quando as formações mentais são reprimidas e não podem circular, começam a aparecer sintomas de doenças físicas e mentais. Precisamos saber como parar com a repressão, para que as formações mentais de desejo, medo, indignação, etc. tenham oportunidade de se manifestar, ser reconhecidas e transformadas. Cultivar a energia da mente alerta através da meditação pode ajudar-nos a fazer isso. Praticar a mente alerta através da prática diária da meditação vai ajudar-nos a reconhecer, acolher e transformar nossos sentimentos de sofrimento.

Quando reconhecemos e acolhemos essas formações mentais, em vez de reprimi-las, sua energia negativa diminui um pouco. Contudo, meditar sobre essas formações mentais por cinco ou dez minutos pode ajudar. Na próxima vez que surgirem, serão novamente reconhecidas e acolhidas e voltarão ao depósito de consciência. Se permanecermos nesta prática, não mais temeremos nossas formações mentais negativas, não mais as empurraremos para baixo ou as reprimiremos como fizemos até agora.

A boa circulação em nossa mente pode ser restabelecida e as complicações psicológicas que causam bloqueios no corpo podem desaparecer aos poucos.

 


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A prática da meditação e sabedoria no cotidiano. Começando a Meditar, Primeiro Passo | Jetsunma Tenzin Palmo

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“Vamos começar de onde estamos. E vamos começar com o que somos. Não adianta querer ser outra pessoa, não é bom fantasiar sobre como seria se fôssemos assim ou assado. Temos que começar do aqui e do agora, na situação em que estamos. Temos que lidar com nossa família, com os amigos e com todos que encontramos. Esse é o desafio. Às vezes evitamos as circunstâncias atuais e achamos que seguramente encontraremos a situação perfeita em algum outro lugar. Mas isso nunca vai acontecer. Nunca haverá um momento e um lugar ideais, porque levamos conosco a mesma mente a todos os lugares. O problema não está lá fora, em geral o problema está dentro de nós. E por isso precisamos cultivar a transformação interior. Uma vez que tenhamos desenvolvido a mudança interna, podemos lidar com o que quer que aconteça.” —Jetsunma Tenzin Palmo no livro NO CORAÇÃO DA VIDA

MEDITAÇÃO COM JEANNE PILLI

“William James disse que aquilo o que prestamos atenção a cada momento é nossa realidade. Então, o que compõe o nosso mundo real é aquilo o que prestamos atenção. Na cultura ocidental principalmente, na mídia, focamos muito no negativo, as pessoas sentem mais atraidas ao negativo, tenho a impressão que esse hábito se deve a um pensamento que ao ver o negativo talvez pudessemos evitar que isso acontecesse conosco, uma espécie de controle ”Vou descobrir como fulano morreu pra poder evitar que aconteça comigo”. Mas o que acontece é que isso vira nossa realidade. Então como podemos escolher isso? Então, deveriamos nos alegrar com as coisas da vida, focar com as alegrias. Isso pode parecer que estamos falando em colocar oculos cor de rosa. .Mas não é o caso. Estamos apenas tentando equilibrar o jogo, já que o negativo já é tão presente. Focar no positivo e nas coisas positivas, o outro lado nos puxa tanto que é preciso equilibrar-mos. É possível escolher o que vamos por em nosso mundo interino, que tipo de visão queremos ter do mundo. A meditação é como estivessemos dando um tempo entre um estimulo e nossa reação. Enquanto não tivermos um pouquinho desse treino, seguiremos responsivamente todos estimulos que chegarem para nós, como se não tivessemos chances de ver. Respondendo apenas a urgências, nossas e dos outros. Nós podemos dar uma ‘paradinha’ antes de sermos reativos, antes de agir responsivamente, antes de responder. Essa ‘paradinha’ é fundamental para ver o que é importante.” — Jeanne Pilli

fonte: Buda virtual foto: Felipe “Aladim” Hadler

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