Câmara de Maia vai avançar com projeto para ajudar os trabalhadores a aliviar as tensões ainda antes de entrarem ao serviço
Se “Deus ajuda quem cedo madruga”, os funcionários da Câmara de Maia vão passar a ter uma razão extra para madrugar: participar numa aula de meditação ou yoga antes de entrar ao serviço. A ideia da autarquia é ajudar a combater o stress, as tensões e a irritabilidade no trabalho. A câmara e os munícipes também ganham com o aumento de produtividade.
Com esta medida “pioneira nas autarquias”, a vereadora dos Recursos Humanos, Marta Peneda, quer combater os riscos psicossociais, como depressões e ansiedade, a maior causa de faltas, bem mais do que os acidentes de trabalho. “Queremos aumentar a produtividade dos trabalhadores, combatendo o stress”, diz a vereadora da câmara de Maia, satisfeita por dar passos nesse sentido. “Chegamos a conclusão de que “80% das faltas estão relacionados com situações de doença, sendo apenas 20% imputados a acidentes de trabalho”. Mas, as faltas na autarquia devem-se mais aos riscos psicossociais que tendem a aumentar. O que acarreta custos para o município. Daí a importância da saúde ocupacional para a vereadora, que incluiu uma psicóloga na sua equipe. “Só que, devido a limitações do ponto de vista jurídico, não pode dar apoio psicológico aos funcionários com patologias associadas aos riscos psicossociais”. Por isso mesmo, estão em curso parcerias com a Universidade de Psicologia do Porto e com as juntas de freguesia que têm os seus psicólogos.
A psicóloga Teresa Espassandim, do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), também defende que se deve investir na saúde ocupacional. “Estamos falando de stress, ansiedade, perda de qualidade de vida, mau estar. O que, no limite, poderá gerar baixas médicas, internamentos e complicações físicas relacionadas com o stress, como doenças cardíacas. Estas práticas de yoga e meditação podem diminuir ou prevenir os riscos psicossociais e tornar os locais laborais mais saudáveis”. Para Teresa Espassandim, não prevenir ou não intervir precocemente nos riscos psicossociais faz com que haja mais doenças mentais. “Portugal é um dos campeões europeus no consumo de ansiolíticos e antidepressivos”. E que são, por vezes, motivados por mal-estar no trabalho. “Um em cada cinco portugueses sofre ou pode vir a sofrer um problema de saúde psicológica”.
Precisamente para prevenir o stress e os riscos psicossociais, a vereadora da câmara de Maia quer que os funcionários façam yoga ou meditação, diariamente e gratuitamente, antes da jornada laboral. Desconhece se é prática nas outras autarquias do país, ainda que já o seja em algumas empresas do setor privado. Em estudo está se será yoga, meditação ou outra atividade de relaxamento. Até pode ser yoga do riso, criada por um médico indiano para combater doenças emocionais. “E porque não associar o sorriso ao combate ao stress, até para fazer jus ao slogan da cidade “Sorria. Está na Maia”?”. Por definir está também quando arrancará a iniciativa. Alcindo Silva, instrutor de yoga e formador de Reiki, diz que “estes exercícios ligados à meditação e ao yoga são reconhecidamente eficazes na diminuição das tensões, da irritabilidade e potenciam as capacidades individuais e a produtividade”.
Forte adesão dos funcionários
Nos corredores da autarquia já se comenta a medida com entusiasmo. “Participarei, mesmo que tenha que levantar mais cedo, porque terei um dia com mais energia, mais produtivo e com um raciocínio melhor”, diz Manuela Barros, coordenadora técnica na autarquia. Jorge Rebelo, especialista em informática acrescenta que “é importante quebrar o ritmo diário para o trabalho fluir melhor”. E, se a tudo isto, adicionar boa disposição, melhor ainda. Ao lado, Maria Vieira, técnica superior de Relações Internacionais, concorda com a medida, ainda que “toda a logística em casa, logo pela manhã, seja complicada de gerir”. Mas diz que “vai valer a pena o esforço”.
Tradução: Felipe Gonçalvez
Original em: Diário de Notícias
Foto: Pixabay